POETA

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segunda-feira, 14 de setembro de 2009

MILITAR




Bem jovem Évora deixei
para me tornar militar
no CISMI, Tavira, estudei
para cabo miliciano me formar.

CISMI era uma unidade, um quartel
onde sargentos formava,
não era para um qualquer
e rija instrução ministrava.

Como aluno instruendo
mil e vinte cinco fiquei,
e então fiquei sabendo
que na segunda companhia alinhei.

Foram meses de cansaço
de instrução a valer,
apanhei cada cagaço
pensei até que ia morrer.

Muito tive que estudar
para aprender a lição,
marchar até fartar
era essa a formação.

Algarve daqueles tempos
suas estradas e campos percorri,
desfaleci a certos momentos
mas a tudo sobrevivi.

Por ser dura a instrução
e na última marcha final,
ai perdi a noção
e fui parar ao hospital

Internado o Natal lá passei
encontrava-me muito doente,
a febre tifóide apanhei,
isso aconteceu a muita gente.

Nesses tempos agitados
onde dinheiro pouco havia.
tinha-mos que comer calados
e visitas as não teria.

Seis duros meses eu passei
Até cabo miliciano chegar
um mês no hospital passei
estava o Estado a ganhar.

Férias não pude gozar,
e quando do hospital saí
tive que me apresentar
e para Aveiro então segui.

Foi uma viagem longa e cansativa
e de combóio tive que mudar,
sem comida e muita fadiga
em Aveiro fui desembarcar.

RI 10 novo quartel
onde me fui apresentar,
não era ainda furriel
mas pelotão fui comandar.

Uma recruta ministrei
outros serviços tive que prestar,
muito frio eu apanhei
nesse inverno de gelar.

Terras do norte conheci
ovos moles eu provei,
de barco a ria percorri
nos meses que lá andei.

Dinheiro esse não abundava
a casa não podia ir,
por isso por lá ficava
sempre o dever a cumprir.

Pela Páscoa me chamaram,
a recruta tinha findado,
guia de marcha me entregaram
é assim a vida de um soldado.

Na vida de um militar
tudo pode acontecer
pois de Aveiro tive que abalar
e novo quartel conhecer.

Um ano havia passado
e a Évora regressei,
estavam então mobilizado
e no RI 16 fiquei.

RI 16 era uma unidade
de tropas de mobilização
era grande a ansiedade
por aquela região.

Companhias lá se formavam
para outros locais seguiam,
instrução bem preparavam
e para o ultramar partiam.

Companhia de caçadores foi formada,
fiquei na sessentos e noventa,
nova instrução foi ministrada
e ai foi de arrebenta.

De Évora para Extremoz segui
e adidos por lá ficámos
o RC 3, cavalaria, conheci
e nos campos lá acampamos.

Para a lição não esquecer
campos e serras tivémos que palmilhar
nosso corpo fortalecer
até ao dia de embarcar.

Para nossa despedida
missa foi celebrada,
foi antes da partida
em manhã ensolarada.

De Extremoz nos despedimos
em formatura geral
e de automotora nós seguimos
para o embarque final.

Em Évora ainda parámos
pude ver minha mãe, irmã e namorada,
ali nos abraçamos e beijamos
foi assim a abalada.

No navio India embarcava
nova viagem se seguia
para bem longe nos levava
e de familiares me despedia.

No cais lenços brancos acenando
eu, lá do alto dos mastros os via,
e à barra então chegando
para mar alto navio seguia.

Portugal para trás ficou
muitos de nós até choraram
em Luanda o navio atracou
e tropas desembarcaram.

Porém o nosso destino
ficava ainda muito além,
tivémos Moçambique por caminho
e isso até nos fez bem.

Longos dias se passaram
até Hong-Kong atracar,
para outro navio nos mudaram
e a Macau fomos aportar.

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